Fábio Melo*
O antropólogo anarquista David Graeber tem uma definição importante sobre “trabalhos de merda”:
“Um trabalho de merda é um trabalho tão inútil, ou mesmo pernicioso, que até a pessoa que o faz acredita secretamente que ele não deveria existir. Claro, você tem que fingir – esse é o elemento de merda, que você meio que tem que fingir que existe uma razão para esse trabalho estar aqui. Mas, secretamente, você acha que se esse trabalho não existisse, ou não faria qualquer diferença ou o mundo seria na verdade um lugar um pouco melhor.”¹
Alguns desses “trabalhos de merda” fazem a obra “Reflexos do mundo – trabalhar e viver” de Fabien Toulmé. No quadrinho, Toulmé apresenta um ex-workaholic estadunidense que decidiu abrir mão de seu trabalho para se dedicar à música. Um entregador sul-coreano de uma grande loja de e-commerce, uma “Amazon” da Coreia do Sul. As colhedoras da flor de ylang em Comores, na África. Em comum, todos eles vivem, ou viveram trabalhos que nem sempre possuem um grande significado para suas existências.
O quadrinho também aborda os impactos da pandemia de 2020-2021 no mundo do trabalho – sendo a Grande Demissão uma de suas principais consequências. As dinâmicas do comércio global impactado pelas gigantescas empresas virtuais. Relações de colonialidade que explicitam a divisão internacional do trabalho. Os impactos psicológicos do trabalho na atual geração.
A realidade do trabalho neste início de século 21 é completamente diferente daquela que estávamos acostumados há 15 ou 20 anos atrás. A tecnologia, os aplicativos, a falta de leis trabalhistas e de perspectiva de futuro se cruzam diante das atividades de trabalho na atualidade.
Titulo: Reflexos do mundo: trabalhar e viver
Autor: Fabien Toulmé
Editora: Nemo
Ano: 2025
¹https://jacobin.com.br/2020/09/a-ascensao-dos-empregos-de-merda/
* Fábio Melo é Historiador. Membro fundador e permanente do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata (GEACB: http://geaciprianobarata.blogspot.com/)
Comentários
Postar um comentário